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Por que o Natal é cheio de canções?

Sempre fiquei intrigado com a capacidade de alguns filmes de nos mostrar a jornada de um personagem. Por exemplo, um homem conhece uma mulher, eles imediatament...

Por que o Natal é cheio de canções?
Por que o Natal é cheio de canções? (Foto: Reprodução)

Sempre fiquei intrigado com a capacidade de alguns filmes de nos mostrar a jornada de um personagem. Por exemplo, um homem conhece uma mulher, eles imediatamente não gostam um do outro... até que se apaixonam e o público acredita no amor deles. Ou um personagem sem talento recebe uma palavra de incentivo de um mentor e revela-se um verdadeiro gênio. 

Como nos convencemos de que alguém realmente mudou? Talvez haja várias técnicas cinematográficas, mas uma que me chamou a atenção é o uso da música para comunicar a passagem do tempo. Uma música de transição prepara o cenário para uma montagem, na qual várias cenas curtas mostram um personagem crescendo e mudando. 

A música transmite transformação interior

Em Film Music: A Very Short Introduction, Kathryn Kalinak escreve, 

[A música cinematográfica] é caracterizada por seu poder de definir significados e expressar emoções: [ela] orienta nossa resposta às imagens e nos conecta com elas... A música cinematográfica também pode criar e transmitir emoções entre a tela e o público. Quando reconhecemos uma emoção atribuída a personagens ou eventos, nos sentimos mais envolvidos com eles. De certa forma, o filme parece mais imediato, mais real.

Voltando aos exemplos anteriores: o casal que tanto se detestava é visto conversando, andando e dançando enquanto um hit romântico toca, e o público fica pronto para um beijo verossímil e um final “felizes para sempre.” Ou podemos estar convencidos de que Rocky Balboa é um bêbado sem futuro, mas depois que o vemos treinar na academia e subir as escadas com aquela música tan-tan-tan-taaan ao fundo, sabemos que um campeão está se formando. 

A música comunica a passagem do tempo. Mais ainda: ela comunica a ampliação emocional necessária para a transformação interior de um personagem. 

O Natal é cercado de canções

Essa pode ser uma das razões pelas quais as narrativas de Natal constantemente irrompem em canções. Por exemplo, Zacarias começa a cantar quando fica sabendo que sua esposa idosa está grávida de João Batista: “Seja bendito o Senhor, o Deus de Israel, pois visitou e resgatou seu povo” (Lucas 1:68).

Da mesma forma, um coro de anjos canta no céu quando Jesus nasce: ““Glória a Deus nos mais altos céus, e paz na terra àqueles de que Deus se agrada!” (Lucas 2:14).

O idoso Simeão também canta quando segura o bebê Jesus no templo: ““Soberano Deus, agora podes levar em paz o teu servo, como prometeste. Vi a tua salvação, que preparaste para todos os povos” (Lucas 2:29-30a).

Quase nenhuma história de Natal passa sem uma canção para coroar a transição de uma nova era.

Um evento que muda o mundo, não um feriado sentimental

Em nossa época, também temos um repertório cultural de músicas natalinas. A essa altura, você já deve estar cansado de ouvir Mariah Carey cantar “All I Want for Christmas is You”. 

Mas a música de Natal mais significativa de todas é mais grandiosa do que “Jingle Bells” ou “Let It Snow”. Na canção de Maria, uma adolescente emerge exultante como a mãe do Messias: “Minha alma exalta ao Senhor! Como meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!” (Lucas 1:46-47).

A canção de Maria nos lembra que o Natal não é um feriado sentimental. É um evento que muda o mundo.  

[Deus] derrubou príncipes de seus tronose exaltou os humildes.Encheu de coisas boas os famintose despediu de mãos vazias os ricos. (Lucas 1:52-53) 

Maria não se prende a sentimentalismos sazonais. Ela sabe que o que está a ordem mundial depende da pessoa que está crescendo em seu ventre. Por isso, ela não tem medo de carregar sua canção com uma retórica que, mais tarde, foi censurada por ditaduras como a da União Soviética. 

Maria sabia que seu Filho mudaria o curso da história. Quem sabe se alguma vez passou pela cabeça dela que ele também mudaria as trajetórias pessoais daqueles que o deixassem crescer dentro deles? Quando Jesus define a melodia de nossa vida, experimentamos uma transformação interior digna de uma canção maravilhosa.

 

René Breuel é um pastor brasileiro que mora em Roma, na Itália. Autor das obras O Paradoxo da Felicidade e Não É fácil Ser Pai, possui mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e em Teologia pelo Regent College, no Canadá. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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